Só valoriza a luz quem já viu as trevas.
Só desfruta, verdadeiramente, da saúde quem experimentou a doença.
Só reverencia à felicidade aquele que mergulhou na depressão.
Só podem perdoar os que foram ofendidos.
Apenas, compreende o brilho da paz quem já viveu em guerra.
O bem nasce nos escombros do mal.
Nada é definitivamente ruim.
"Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos."
CARL GUSTAV JUNG
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Breve diálogo
A maior expressão de beleza é a misericórdia. Nada tão digno do que ver o
humilhado reerguer o seu opressor. O mundo precisa desses gestos. O orgulho
ferido tem destruído, infelizmente, muitas famílias.
Um
sonho de consumo?
Eu
não diria de consumo, porque de modo algum desejo comprá-lo e tenho plena
convicção de que não poderia assim agir. A minha utopia é poder amar as pessoas
acima das coisas do mundo.
O
que lhe dá prazer?
Olhar
a natureza e enxergar uma formidável poesia de amor. Sendo o homem incapaz de
conferir brilho a menor das estrelas, é inevitável dizer a necessidade de se
reverenciar o Autor de toda criação. Em cada detalhe do Cosmo, Deus pensou em
seus filhos amados.
Se
você pudesse fazer uma viagem, para onde iria?
Se
eu pudesse não, eu posso. O início é difícil e a caminhada, muito longa, mas
todos nós somos eternos viajantes. Estamos continuamente mudando de morada. O
lugar que estou hoje é sem dúvidas o ideal para mim. Não poderia estar em nenhum
outro. E a consciência disso me dá esperanças.
O
que é felicidade?
Evitar
a tristeza com a energia das boas obras em favor do próximo.
Qual
o valor do dinheiro?
Significativo,
contudo ainda o utilizamos para adquirir bagagens pesadas e temporárias.
Um
investimento?
Nas
pessoas. Gasta-se muito com máquinas e pensa-se pouco na vida.
O
que não tem preço?
O
sopro da vida. Não pagamos para sermos criados. Ganhamos um presente e devemos
dele cuidar. Cada virtude que conquistamos e incorporamos ao nosso modo de ser
é uma atitude de gratidão.
No
que acredita?
Em
Deus, um Pai de amor maternal. E todas as boas crenças que trago comigo nascem,
primordialmente, dessa.
Uma
certeza?
O
fracasso inexorável da violência em todos os tempos.
O
que lhe emociona?
A
caridade incondicional.
Quem
merece os seus cuidados?
Aquele
que precisar.
Onde
está o maior problema da sociedade?
A
exigência da perfeição na figura do outro.
Um
ideal a seguir...
O
Evangelho de Jesus.
Uma
obra a preservar...
O
planeta Terra.
Uma
reforma a ser feita...
Nos
corações.
Um
mantra...
“Perdoa
setenta vezes sete”.
Uma frase de
despedida...
“Nele, como em certas plantas nas quais as flores
nascem antes da folhagem, a caridade nasceu antes da razão” [1].
[1]
Retirada da biografia de Vicente de Paulo.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
O médium franciscano
O médium entra em contato com
o mundo dos espíritos e descobre que o materialismo transitório não pode lhe
trazer a felicidade. Eis uma lembrança da Lei Maior quanto aos compromissos
assumidos antes do retorno à matéria. A revelação tem o brilho de uma dádiva,
porque nem todos conseguem enxergá-la. E o medianeiro, assim, pode clarear o
caminho dos perdidos, dos inconsoláveis, dos depressivos, daqueles que perderam
a fé e também a esperança. Mas, infelizmente, ele se esquece do compromisso
inalterável. Passa a dar valor excessivo ao culto externo e ignora o que disse
Jesus: “não encontrareis o céu num lugar físico”. Então, surge o paradoxo –
médiuns sem mediunidade. Os problemas se instalam e o potencial intermediário
entre vivos e “mortos” nada vê, nada ouve, nada sente. O dom deixa de ser
ostensivo, rareia até minguar. E ai? Novas dívidas são acumuladas, pois aquele
que mais recebe tem uma conta maior a prestar...
Com enorme pesar, digito
essas palavras. A sociedade precisa de hospitais espirituais. A insanidade está
espalhada por toda a parte. O planeta adoece conforme a vibração dos seus
habitantes. O ódio ganha as ruas. E as almas que deveriam amenizar a dor se
comprazem com o comércio do Sagrado. Quantos males de origem extraterrena
assolam os homens! E os médiuns são os intérpretes desses fenômenos
desconhecidos. Sem eles, não existe Umbanda e Espiritismo e talvez todas as
outras religiões, que mesmo não aceitando a vida incorpórea, recebem a
influência iluminada das falanges do espaço, posto que o Pai não precisa do
aval dos homens para forjar as suas leis perfeitas e imutáveis.
Os espíritos se manifestam em todas
as partes, derramando luz sobre a carne, porque existem dores. As
bem-aventuranças, narradas no Sermão da Montanha, ainda estão muito longe da
humanidade deste orbe. Mais do que nunca é preciso recordar a máxima de São
Francisco de Assis – “é dando que se recebe”. Entre todas as obras, Deus fez da
Natureza a maior exemplificação do verbo “servir”. Médiuns, espelhai-nos,
unidos, na generosidade da mãe Terra. Se a mediunidade foi levada pelos
caprichos do orgulho, não dê ouvidos a frustração. Juntem o dinheiro arrecado
para oferendas, festas e práticas rituais. Façam ceias no palco das antigas
sessões de caridade. Repartam o que lhes sobra com os pobres e miseráveis. Dêem
a melhor parte do banquete aos que têm fome. Vejam em torno da mesa uma grande
fraternidade e o Cristo como o sublime servidor de toda essa confraternização.
Será o recomeço através do amor. Quem não pode oferecer o alimento espiritual,
oferte, ao menos, o pão-nosso.
Inspiração
Crê em Deus, no sentido da coisa, é algo
que as religiões teológicas já ensinaram ao homem. Porém, o Criador não é algo
palpável. O reencontro com Deus é experiência metafísica. Quando
Jesus afirmou "Eu estou no Pai, e o Pai, em mim", Ele havia
mergulhado no mistério do cosmos e descoberto algo que eu nem sequer posso
imaginar. Senhor, este servo imperfeito vos pede, aumenta a minha fé.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
O livre-arbítrio também é dono da gira
Na última
semana, recebi, em minha casa, um amigo muito querido que, há tempos, eu não
via. Já no portão, assustei-me ao abraçá-lo; vi um moço enfraquecido, com a voz
embargada e os olhos avermelhados. Quanto desânimo e pesar carregava aquela
jovem alma! Intimamente, recordei as suas
queixas antigas, cuja memória conservava ainda com certo viço: – Não sei mais o que fazer, dizia ele, em
lamento, sob o fardo do semblante cabisbaixo.
Nessas horas,
qualquer palavra não serve; a mente confusa está cansada de tanto ouvir e nada
de proveitoso assimilar. Sutil, iniciei a conversa com a mais comum das
perguntas: – Como vão as coisas? Obviamente, não iam nada bem, mas eu não podia
contar o espanto em vê-lo tão abatido. Temi um bloqueio; ou até mesmo, uma
negativa do tipo: – Engano seu, estou
ótimo. Dai a prudência. Muitas pessoas preferem sofrer caladas, e alguns agentes
invisíveis dessa postura são conhecidos da psicologia mundana; entre eles, está
o medo, enorme parasita da alma, que se infiltra nos conflitos humanos a fim de
levar doenças ao organismo.
Da simples
pergunta, surgiu o desabafo inesperado.
– Passei mal ontem, a cabeça dói, as costas
também e no peito parece que levo os pecados do mundo; quase não me agüento em
pé, completou.
Quis saber se
ele havia consultado o médico. Afirmou que sim.
Os exames não apontavam enfermidade alguma. Em face ao problema, ocorreu-me um
estalo imediato – o sofrimento espiritual
persistia por não encontrar o devido tratamento.
Dentre as
repetidas frases dele, esta foi emblemática: – Não faço nada de errado. Cumpro religiosamente as minhas obrigações,
dizia, sem observar a ineficiência de suas práticas. Optei pelo silêncio para
somente ouvi-lo. De vez em quando, a cada intervalo de idéias, pedia que ele
buscasse forças através das preces e confiasse em Deus. Não me escutava; era
pura desolação.
Confesso que me
tomou o ímpeto de questionar o terreiro que ele freqüentava. “Está há tempos no
mesmo lugar, e os problemas só se agravavam. Ninguém lhe propunha um estudo
profundo do caso para ajudá-lo realmente”, pensava eu, sem confiança, para
externar a constatação. Conversamos por mais alguns minutos; nos despedimos com
a promessa do reencontro.
Sozinho, sentei
no chão da varanda e me fiz a seguinte indagação em bom som: – Que conselho foi
aquele: “O melhor que você tem a fazer é não incorporar”? Senti um alívio por
não ter passado de um pensamento; já
pensou se digo alguma coisa? Iria me sentir culpado. Absurdo! Vou tratar de esquecer. Quando levantei, ainda aturdido, reconheci
uma cândida voz: – Aquieta-se, meu filho!
Para minha
surpresa, era o mesmo velho de outrora. – Não
disse que voltaria? Pois, estou aqui. Admirável a força transmitida; luz
suave, mansa, de qualidades superiores em relação à primeira vez em que nos
falamos. Recebi um sopro de alegria no coração, e os meus lábios estamparam o
mais novo sorriso. Coisa boa de sentir, farol que se reflete abençoando o
lugar.
– Foi o senhor
quem me inspirou a idéia que eu combatia há instantes?
– Não!, disse
ele, enfatizando: – Agora, o sopro que lhe toca a mente vem de outras bandas.
Busquei entendimento,
como alguém que tenta decifrar às letras para dar significado ao mistério. – O
que o senhor quer dizer com outras
bandas?
– Veja, apontou-me.
Ganhava forma à
imagem de um caboclo, cujos passos vinham em minha direção.
O velho tomou à
frente. – Este é um grande amigo, nos conhecemos há muitas luas e, hoje,
trabalhos juntos neste universo de Oxalá.
Extasiado estive
e, assim fiquei, até retomar o prumo. Em termos de características, os meus
olhos gravaram, apenas, a pele vermelha, que brilhava sob os raios do sol.
Talvez, fosse o bastante. A imagem reveladora, sem maiores detalhes.
– Filho, despertou-me
o velho, – esse caboclo que suncê vê é o verdadeiro dono daquelas palavras: “O melhor que você tem a fazer é não
incorporar”. Grifa-se nesta revelação que o velho começava a se utilizar de
uma linguagem antiga.
Feita a
apresentação, o caboclo me deu o seu depoimento: – Menino, não tenha pena de ninguém, substitua os sentimentos menores que
lhe sensibilizam ao extremo. Cultive a compaixão e se proteja dando propósitos
elevados à ajuda que oferece. Saiba, primeiramente, por onde começar. A
caridade exige inteligência emocional. A pena é a emoção passiva,
inconsciente, que lhe faz absorver o drama alheio; enquanto, a compaixão lhe
leva a agir em busca de soluções.
– O senhor diz
assim, caboclo, porque percebeu o quanto fiquei abalado com a situação do meu
amigo?
– Exatamente, e
notei também que você não sabia como orientá-lo; por isso, enviei-lhe uma única
frase capaz suscitar um diálogo entre nós dois.
Comecei a
esfregar as mãos por senti-las muito frias. O velho notou e repetiu o conselho:
– Aquieta-se. Em seguida, tocou o meu
peito com novos dizeres. – Busque os Orixás no lugar mais próximo: o recanto imaculado,
onde você é absolutamente singular.
O meu coração entendeu o recado e, como
recebesse um carinho, alegrou-se profundamente. É impressionante a força que os
diferentes estados de espírito têm sobre o corpo. As palavras do velho chegaram
até mim feito brisa, leve e suave. Imediatamente, modificou o meu humor. São
muitos os dias em que procuramos transformações meteóricas nos lugares longínquos.
Sem perceber, ignoramos o caminho mais curto: o da auto-descoberta.
O velho
continuou: – Nesta terra, existe a ignorância de si mesmo. Os homens desejam
mudar tudo, e se esquecem do compromisso maior que assumiram: cuidar de suas
vidas. Filho, dê diretriz aos seus
pensamentos, identifique as causas do mal-estar que lhe ronda e vença-as. Depois,
pergunta-se mil vezes por que venceu e terá como recompensa os frutos da sabedoria
íntima, que permitem ao ser consciente se reconhecer nas obras do Criador. Mais calmo,
agradeci à celestial sabedoria e pude, com maior claridade, ouvir o caboclo.
– O seu amigo
precisa de um tempo, explicou o caboclo. – Ele já não consegue mais distinguir
a realidade da ilusão. Falta-lhe lucidez. A mente mal orientada repassa aos
espíritos a missão de produzir todas as respostas necessárias à evolução do
médium. Tal percepção representa uma recusa perigosa do livre-arbítrio. Os guias
atuam em auxilio ao homem, mas não podem influir em suas vidas a ponto de tomar
decisões, estritamente, particulares.
– Por que somos
tão vulneráveis a esse ponto?, indaguei.
– Menino, o homem que duvida dele mesmo
tem marcado na alma a dúvida sobre a onipotência de Deus; acreditar em si é
confiar em Deus. A separação entre o Pai e os filhos quem faz somos nós. Quando
estiver perdido, não veja a cura nos outros; pois a mesma está em você. Certa
vez, um jovem me questionou qual seria o melhor lugar para encontrar a Deus.
Respondi-lhe com um pedido: não fuja do
seu lar, nem abandone parentes e amigos; o melhor lugar é aquele onde o
problema se instala.
“Impressionante!”, exclamei em segredo. O caboclo
mergulhava no sofrimento do meu amigo, através de nosso diálogo. Cada
ensinamento encontrava os problemas que tanto me causavam preocupação. Era
verdadeiro: Tiago saia de casa, vivia ajoelhado aos pés das entidades e jurava
praticar uma boa Umbanda porque não cometia pecados capitais; ledo engano. Suas
virtudes eram deveras grandes, inegáveis até; porém, a acomodação alojava-se em
suas práticas. Pretendia conhecer os Orixás, antes de investigar-se. E o pior:
acreditava em tudo o que lhe diziam.
A partir dai,
começamos o anunciado diálogo.
– Pode alguém
participar de sessões espirituais e delas sair pior do que chegou?, questionou-me
o caboclo.
– Pelo que vejo
pode, mas não deveria, entoei com firmeza.
– Há algo de
errado, certo? Os terreiros são templos de cura; é inadmissível que as pessoas
procurarem o remédio e encontrem doenças espirituais tão graves como as vistas
na rua.
Balancei a
cabeça em acordo e unindo os fios do raciocínio revelado, tentava costurar, sem
remendos, os meus conceitos. Queria algo que pudesse vestir a alma, sem
deixá-la desnuda nos momentos de frio.
– Qual o motivo
dessa realidade?, fiz questão de saber.
– Infelizmente,
reina uma série de violências espirituais, disse o caboclo.
– Por que os
guias não intervêm, se o cenário descrito é absolutamente real e melancólico..,
contestei.
– Os homens
constroem as suas verdades e se reúnem para em cima delas trabalhar. Então, é
preciso saber: que verdades são essas? O livre-arbítrio também comanda a gira e
diz se os trabalhos serão bons ou não. Dentro dos centros, quem bate cabeça,
pede bênçãos, reverencia supostos guias e confia na ronda é você. Ninguém lhe
obriga; muito menos os bons espíritos que, em certos casos, manifestam-se
nessas zonas densas para aliviar a dor dos médiuns.
Incomodado,
comentei:
– Jamais pensei
nisso. Acreditava que no simples fato de pisar numa casa, estava presente a
concordância dos guias.
– Existem casas
boas e ruins. Quem deve fazer a escolha é você, enfatizou o caboclo. – Quando
entrar, não julgue, permita-se observar o desconhecido para aprender, analise
se os trabalhos são caridosos, e as mensagens inteligentes; seja digno, procure
um ambiente cujas suas forças morais possam evoluir e, acima de tudo, peça
proteção, exercite a fé que já conquistou e lembre-se: “orar e vigiar” são
recursos insubstituíveis.
– E os
enganados, as pessoas de bom coração?
– Você não julga
enganados, por exemplo, os evangélicos?
– Sem dúvida,
afirmei veementemente.
– Pois, então,
os umbandistas não escapam à regra. O sacerdócio nem sempre é um exercício de
amor; os interesses do ego, não raro, falam mais alto, e, da mesma forma, que
existem os enganados, existem os que conhecem e aceitam, tranquilamente, os desvios
de comportamento, porque neles se reconhecem.
– Entendo...
– Muitos médiuns
ao entrarem numa corrente de Umbanda, literalmente, entregam suas cabeças;
nesse ato, oferecem o comando de suas vidas e perdem o poder de questionar.
Aceitam tudo passivamente, até mesmo os maiores descalabros em nome de uma
hierarquia autoritarista. A religião não pode formar mentes submissas. O
objetivo é a liberdade. O entendimento acima da matéria. Se as informações do bem
realizado, escaparem ao conhecimento dos pais e mães de santo, não há
problemas. A caridade não tem dono. Aliás, tem sim: Deus.
– E os guias
abandonam o médium?
– Eles trabalham
por amor e cuidam de lhes dar intuições. Nem sempre ouvidas. Diga-se que em
ambientes nebulosos, onde imperam maldades, a energia predominante é triste,
avessa à beleza dos Orixás. Não à toa, alguns médiuns passam anos de
sofrimento, aprisionados, sem a certeza, inclusive, de incorporar os seus
verdadeiros guias.
O meu espanto
foi inevitável.
– O médium pode se concentrar para receber à
luz e ser surpreendido por eguns, mesmo em terreiros com tantas firmezas?
– Certamente, respondeu
o caboclo. – As
entidades encontram as portas invisíveis que dão acesso a alguns terreiros fechadas. Nesses ambientes, os sacerdotes fazem acordos com
certos espíritos e dependendo do nível dos pedidos feitos e aceitos, tornam-se
reféns de suas próprias ações. Infelizmente, a irresponsabilidade atinge também
os membros da corrente que, sem perceber, vibram numa atmosfera trevosa.
Comecei a chorar, quando um
forte cheiro de arruda tomou o ambiente, e, aos poucos, foi modificando a
energia que me cercava. O caboclo, assim, retornou a falar:
– O bem ao
próximo não é uma alegoria perdida nos evangelhos, sem forças para chegar aos
anos atuais e penetrar nos costumes modernos. Se a caridade nos foi ensinada há
uma razão de ser, santa e divina. Muitos pegam a palavra, deitam sobre ela e
não fazem nenhum juízo de valor. A caridade não pode ter o sentido vago que lhe
impõe como se fosse uma simples esmola,
distribuída a bel-prazer, em datas estabelecidas. O bem reforça a natureza
social do homem; Deus tudo fez e tudo faz, mas permite, em sua infinita
sabedoria, que os seus filhos sintam, por méritos, as virtudes dos céus lhe
penetrarem o espírito. Através das relações sociais, os homens conscientes
chegam à conclusão de que o individualismo é o fracasso da espécie; enquanto, a
fraternidade, o grande triunfo. Observe a vida e leve na memória o que lhe
digo: ninguém está livre de fazer um
pedido de socorro. Se por experiências vindouras, você chegar a outro
termo, tudo bem; não quero lhe vender idéias; apenas, transmiti-las e dar-lhe a
chance de chegar as suas próprias verdades, definitivas ou não.
– Uma verdade me domina, caboclo! O médium
precisa ser preparado para entrar em contato com os problemas externos.
– Perfeitamente. O público constitui uma das
essências da Umbanda! Aruanda deseja que todos os filhos da terra estejam sadios
de corpo e espírito; no entanto, não ignora as dificuldades da caminhada; sabe
que a sociedade está cheia de pessoas doentes; e são, justamente, essas almas o
motivo maior de um terreiro estar aberto, ou pelo menos, deveria ser. Lembra
quando eu lhe disse que “ninguém está livre de fazer um pedido de socorro”?
– Lembro sim.
– Da mesma forma, ninguém está livre de ouvir um pedido de
socorro. Na vida, somos erguidos para aprendermos a erguer. Eis o círculo
virtuoso de Umbanda. O auxílio oferecido nas horas de desespero é valioso: a
ação cria laços de amizades, faz o benfeitor se iluminar e o socorrido
fortalecer a sua fé. O amor cativa. Não tenha dúvidas: o amigo de quem você
tanto gosta precisa ser atendido no seu pedido de socorro, para, no futuro, ter
conhecimento de causa e poder servir àqueles que sofrem do mesmo mal.
– Por isso, o senhor disse:
“o melhor que você tem a fazer é não
incorporar”?
– Sim. O médium, com sérios distúrbios
emocionais, perda de sono e dores, precisa de um tempo para se reequilibrar. O
cérebro é uma máquina poderosa, mas, obviamente, tem limites. Os eflúvios
negativos da obsessão enfraquecem a vigília, desvitalizam a matéria e fazem o
pensamento se perder no caos. A incorporação desregrada, nestes casos, ameniza
a carga sem vencê-la por completo. Por isso, é muito importante proteger o
corpo mediúnico. Nada substitui a paciência e o devotamento. Filho, tenha
sempre em mente a figura do preto-velho no toco, segurando o rosário e
evangelizando o iniciante. Esses guias maravilhosos são exímios psicólogos do
espaço, e, sob o cuidado deles, o médium novato saberá, exatamente, a hora
certa de retornar o exercício ostensivo das manifestações.
Neste link, encontra-se o texto que precedeu esta narrativa.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Ogum, benfeitor das almas
As
Tuas armas apresentam um simbolismo, cujos homens não conseguem interpretar, e
por não entenderem, fazem idéia distorcida do objetivo de Tuas batalhas. Quem
sabe um dia, lágrimas de arrependimento lavem os olhos embaçados de todos os que
bradam com ira e façam cintilar o real sentido da intercessão divina. Veremos,
então, que depois da guerra o metal lapidado não apresenta nenhum vestígio de
sangue. A espada e a lança, na verdade, abrem caminho na escuridão, retiram os
espectros das mentes perturbadas e cravam suas lâminas no dragão que vive e
cospe fogo dentro do homem. As armas de Ogum se energizam sob a luz das
estrelas, do sol e da lua, seus raios flamejantes iluminam as estradas em
qualquer tempo para dar rumo àqueles que se perderam em suas missões. O grande
guerreiro, antes de polir a espada, carrega um brilho de amor no coração. Ogum,
sei que jamais humilhaste ou feriste nem mesmo os Teus oponentes. A força que
tens está a serviço de tarefas edificantes em comunhão com a Lei Maior. Deve
ser duro para o adversário que Te queres mal, saber que Tu só lhe desejas o
bem.
Paternal, Ogum carrega a criança no colo;
misericordioso, levanta a cabeça de quem se
arrepende;
cultiva a esperança, e não, o medo;
valoriza os humildes;
combate para transformar os soberbos;
ergue os que se ajoelham aos teus pés,
pois não se julga maior do que ninguém.
Ogum "não se inquieta pela posse do
ouro",
sabes que o maior tesouro do universo é o amor de
Oxalá.
A liderança de Ogum não é imposta,
nasce naturalmente nos reflexos de cada ação
benevolente.
Poderia chamar-Te Conquistador, Senhor das Estradas,
Cavaleiro Nobre ou General,
mas sei bem que esse tipo de glória não Te desperta
interesse.
Ogum, continuarás vencendo Teus duelos com o maior
de todos os golpes – a humildade.
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