terça-feira, 21 de outubro de 2014

Reviver

As nuvens, gentis,
sentindo a luminosidade
que lhes transpassava,
abriram as cortinas da alvorada,
para que o Astro Rei pudesse
aquecer a Terra
com os raios debutantes,
no fenômeno do amanhecer.
O teatro da Natureza, em festa,
inaugurou uma nova Era de amor, em mim;
graças ao anjo, que velando à cabeceira,
apresentou-me a janela da Vida.
Assim, os meus monólogos de lamento
tornaram-se diálogos, de agradecimento, ao Criador.

Aprendiz

   Sentado, em baixo de uma gigantesca árvore, cansado pelas desilusões do dia, roguei aos céus um milagre, capaz de levar embora as minhas dores. Muito triste, fiz comovida oração. Passaram-se duas semanas, e o fato extraordinário, reiterado nas rogativas, não aconteceu. Retornei ao mesmo lugar para, novamente, refletir. Refiz a prece, certo de que, “agora”, o meu problema seria resolvido. Mais quinze dias no relógio do tempo... E nada mudou. Aflito, fui recebido, outra vez, pelas copas majestosas. Recostei-me em seu tronco e, exaurido, dormi. Viajei nas asas dos sonhos, e fui parar no sopé de uma montanha, onde uma ilustre alma me apontou o universo infinito. Não a compreendi. Vendo a necessidade da linguagem articulada, o irmão – em cândida explanação – inquiriu-me: “quantos, na Terra, gostariam de ter uma sombra para descansar, e não a tem. O milagre é você refugiar-se sob os auspícios de uma árvore, na imensidão de um planeta que gira no final da Via Láctea. O que exige da Criação além disso?”

   Quedei a cabeça em ato de vergonha. A caridade me consolou... O ensinamento não tinha o aspecto de reprimenda. Era fonte de água viva, que serena e refaz as forças. Aceitei aquelas palavras humildes ao reconhecer o nanismo das minhas atitudes perante aquele espírito excelso, cuja experiência na seara do Mestre já rendia frutos de bem-aventurança; enquanto eu ainda não havia aprendido a semear virtudes imperecíveis e vacilava como aprendiz do amor. Só assim, compreendi que toda forma de mágoa e imposição à Divindade é objeto estranho na intimidade do coração.