De vez em quando eclode
um grito do coração, e os olhos, gastos pelo excesso de sombras ao redor, buscam
o colorido da vida em mundos distantes do nosso. Sentado à margem do rio, o
médium colocava um barquinho de papel na água como se estivesse entregando à
Natureza uma porção de suas angústias. Na frágil arquitetura pueril,
simbolicamente, navegavam certas questões incomuns e fora da preocupação dos
navegantes. Por que os filhos de Zambi andam tão maus uns para os outros? De onde
vem a sanha ostensiva que não cansa de provocar sofrimentos? O homem, com
trejeitos de menino, buscava respostas para enfrentar os ambientes de batalha,
a astúcia daqueles que ferem sem remorsos e se especializam em calar as vozes
dissonantes com o brado da covardia.
No painel límpido das
correntezas, o jovem percebeu uma onda energética sublimar o local em que
estava. Era Oxum quem envolvia o corpo mental do medianeiro a fim de lhe
encorajar o trabalho no solo agreste das almas que habitam o Planeta Azul. “Meu
filho”, dizia a mensagem celestial, “não se esqueça jamais de Ogum. Os homens
lutam por causas insanas, brigam por motivações mesquinhas, causam ulcerações
na tessitura familiar e vivem invejosos porque não reconhecem o impulso divino
trazido pela vibração cósmica do Orixá Guerreiro. Daí o excesso de covardes
nesta plaga terrena. Na contramão das virtudes divinas, os primatas
estacionários – esquecidos do compromisso da evolução – cravejam corpos de
bala; aumentam a orfandade; estupram; impelem os governos a criarem delegacias,
cada vez mais especializadas, devido à multiplicidade de crimes e alimentam
amizades superficiais por gozos alucinógenos. Frente ao atual estágio, é
preciso que os bons dêem provas reais de sua bondade, impondo resistência,
quando houver forças possíveis, para deter a propagação da barbárie. Não dá
mais, meu menino, para ficar calado. Muitas coisas estão aquém da vontade
meramente humana, mas tantas outras – que formam a maioria – dependem
exclusivamente de vocês. Não engrossem as fileiras dos exércitos obscenos. Olhem
o trabalho das falanges do bem. Os oprimidos precisam sair de suas catacumbas, haja
vista que permanecem vivos. Os sonhos menores das aspirações mercenárias são
mais facilmente obtidos; por isso, tão profícuos tornam-se as empreitadas dos poderosos da Terra. Prefira, pois, o
caminho inverso. Cultive ideais de amor, cuide das mulheres indefesas, dos
idosos maltratados, das crianças que perambulam e não se associe aos homens que
trajam a capa da hipocrisia. Oxalá enviou espíritos amigos à escola que prepara
discípulos para o Reino anunciado. Coragem! Eu lhe peço. Por enquanto, o que
vocês têm são apenas casas de tijolos materiais. Seja uma viga resistente no
lar imenso ainda em construção".
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