Eu estava desiludido, maltrapilho,
deitado no chão de barro. Os caminhões passavam jogando poeira em meu rosto, e as
pessoas seguiam indiferentes às minhas feridas. Sem forças para chorar, em
virtude da dor alucinante, vi brotar do peito um pássaro vestido de esperança,
que levou a comovente súplica ao meu Senhor: “Pai, ajuda-me”. Nessa hora em que
o corpo não era nada, alcancei pelas ondas invisíveis do amor a solidariedade
de um irmão, que ao se aproximar disse: “não se turbe o vosso coração”.
Relembrei, imediatamente, do Glorioso Rabi e da medicina celeste que Ele
dedicou aos miseráveis, iguais a mim. Não pude conter a emoção e dos lábios
surgiu o sorriso outrora escondido pelo sofrimento. A doce figura conduziu-me, e,
quando acordei do sono profundo, estava numa casa simples, de uma energia
benfeitora e perfumada pelo hálito da natureza. Deslumbrado com o clima
maravilhoso, demorei a perceber que as minhas chagas haviam sido cuidadas, e o
meu corpo estava limpo. Esboçando dificuldade, levantei dos lençóis brancos,
que nada lembravam o leito de agonia e busquei o espelho. Quem estava ali? Não
podia ser eu. Onde fora parar a pele suja, o cabelo emaranhado e os olhos
tristes? Lembrei-me, então, da face angelical e do gesto solidário que me pôs
no colo. Chorei ao lembrar a prece desesperada. A nobre alma aproximou-se e me
envolveu em carícias de luz. Abracei-a com afeto. E ela parafraseou o adorado
discípulo: “se eu tiver o dom
de profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se pode saber; e se tiver
toda a fé, até a ponto de transportar montanhas, e não tiver caridade, eu nada
serei”.
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