O sol brilhava, os casais de namorados aproveitavam o belo
domingo, as crianças brincavam alegres e os senhores de cabeça branca se
divertiam contando estórias do passado. Havia ali, naquela praça, uma atmosfera
de paz. A natureza brindava a todos com um espetáculo de cantos, danças e
cores. Os pássaros expunham as mais lindas melodias, as plantas bailavam,
harmoniosamente, ao sabor dos ventos, e o arco-íris se refletia nas águas
cristalinas do regato.
Profundo admirador da obra inigualável e magistral, eu
observa cada gesto desta Mãe Divina, que aprendemos a chamar de natureza. Muito
descontraído, então, vi um homem sentar-se ao meu lado e me desejar bom-dia. Retribui a gentileza e o reconheci com
algum esforço. Era João, grande companheiro dos tempos de escola. Fixei os
olhos nele para ter certeza e, quando tive, expressei a feliz surpresa
dando-lhe um caloroso abraço.
A primeira pergunta que me acudiu foi a de indagá-lo como
andava a vida. Ele, um pouco intranqüilo, respondeu-me: – não vai
nada bem. Quis saber o motivo e, como precisasse desabafar, João me contou o
seu problema: – o meu pai, antes de morrer, reuniu os 4 filhos para comunicar
sobre o testamento que nos deixaria. Segundo a vontade dele, os bens seriam
divididos em igualdade de valor. Pediu que, jamais, brigássemos por dinheiro e,
com sabedoria, fizéssemos bom uso da herança. Hoje, após 5 anos de sua partida,
posso dizer que fracassei diante do pedido final. Todos os meus irmãos investiram
em ótimos negócios, tornaram-se grandes empresários, donos de carros luxuosos,
apartamentos, casas de praia, lanchas... Enquanto, eu fracassei literalmente. A
pequena fortuna, que tive em mãos, virou pó.
Ouvindo aquela prosa em tom de melancolia, não fiz questão
de entender os detalhes, compreendi que a curiosidade só aumentaria a culpa de
meu amigo; então, resolvi lhe falar de uma “Grande Alma”, que deixou enormes
lições para Humanidade:
– No século XX, um homem franzino e infinitamente mais
pobre do que nós dois venceu o Império Britânico e libertou o seu povo de um
século de dominação. Sabe quais os recursos financeiros que ele tinha?
– Quais?
– Nenhum. Ganhou a guerra sem empunhar uma única arma,
cativou as pessoas com o discurso da não-violência e exortou as consciências a
lutarem pela justiça, fazendo uso da paz. Quando, enfim, esse homem conseguiu a
independência de seu País, um radical religioso atirou nele fatalmente.Você
imagina, João, o que ele pediu antes de morrer?
– Não.
– Que perdoassem o seu algoz! Quando você me falou sobre o
patrimônio dos seus irmãos, me veio esta história à cabeça, porque eu nunca
quis saber os caminhos para ter carros, apartamentos e lanchas. Na verdade, eu
peço a Deus para levar desta terra a compreensão mínima deste amor, que de tão
maravilhoso, chega ser difícil de explicar. O que dirá de sentir...
Com os olhos marejados e a voz embargada, João gaguejou: –
Qual o nome deste homem? Antes de responder, fiz um pedido: – Pacifique o
seu coração. O império invasor que lhe oprime é a culpa; enquanto o auto-perdão
chama-se: Gandhi; ou melhor, Mahatma Gandhi. Não se esqueça disso, jamais.
Procure conhecê-lo.
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