terça-feira, 5 de novembro de 2013

Uma voz ecoou no terreiro

Devidamente vestido, o sacerdote manteve a presença física diante da enorme corrente e recolheu-se, em espírito, para rogar proteção, sem que ninguém percebesse. Na contagem mental dos pulsos, o equilíbrio das emoções foi lhe tomando ao poucos, enquanto uma luz, quase imperceptível, banhava o chacra coronário que se abria como no desabrochar de uma rosa branca. A voz límpida ecoou e exibiu toda a temperança do orador:
– Meus queridos irmãos, muito me alegra a presença de vocês nesta comunidade, que se reúne para levar paz àqueles que estão em guerra com o mundo ou consigo mesmo. Devemos receber de braços abertos todas as almas que aqui chegam, porque não somos, de maneira alguma, auto-suficientes. É uma lição de humildade ver os consulentes que, mesmo fragilizados, fortalecem a nossa egrégora com a vibração de seus anjos de guarda e dos mais nobres mentores. Aruanda é solidária às nossas misérias. Deixemos de lado o vulto das aparências para que sejamos aparelhos dignos de acolher o verbo consolador, ditado pelas falanges do Cristo - uma fonte inesgotável de energia, da qual podemos haurir o ânimo que nos falta em auxílio ao sofrimento alheio. Não importa o tamanho da corrente desde que se haja amor. Esqueçamos as diferenças, é chegado o tempo de caminharmos juntos. O amor nos liga aos espíritos missionários e hiper-sensibiliza as percepções mediúnicas com o desígnio de torná-las mais intensas, no trabalho desprendido de interesses materiais. No exercício sincero de um médium devotado, os resquícios de intolerância se diluem na prática redentora da caridade. Assim, as mãos impostas sobre as chagas fazem brotar o fluído curador de um guia que passa. E não há retribuição maior para uma casa espiritual que tem as suas portas abertas.
Comovidos, os filhos fizeram menção de exaltar o interlocutor. Imediatamente, foram persuadidos por outra idéia: – Não precisam me aplaudir. Sou, tão-somente, um canal que reproduz as vozes que não têm mais a matéria para se fazerem ouvir. Se algum dia, pelas minhas falhas, eu vier a sucumbir, certamente, não serei o veículo escolhido para transmitir mensagens dignas de atenção. Discípulo imperfeito que reconheço ser, jamais, poderia me considerar um privilegiado acima de todos vocês. Jesus, o Mestre dos mestres, disse aos seus apóstolos: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho vos chamado amigos, porque tudo o quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer”.
Apontando para imagem de Oxalá, o sacerdote continuou: “Se Ele que tanto deu a Humanidade agiu assim, quem sou eu para fazer diferente? Na vida profana, os homens pisam uns nos outros e desejam se elevar através das riquezas mundanas. Porém, neste espaço, nenhuma moeda vale mais do que o amor. Caso qualquer pessoa, aqui presente, suba um degrau e, do alto, veja o irmão em apuros, ela mesma deve lhe estender as mãos. Sem compaixão entre os medianeiros, a troca positiva de energia se quebra em determinados elos e o ambiente torna-se propício para o ataque de obscuras forças psíquicas”.
Quando o médium saiu do estado de inspiração, percebeu o profundo silêncio que se instalara, no local, para uma prece de agradecimento e perdão a Deus. 

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