segunda-feira, 14 de abril de 2014

A mediunidade, o choro da menina e o depoimento da criança

      Ajoelhado, o menino buscava conforto para as suas dores. Os olhos infantis fitavam a imagem do Cristo, encostada na parede, e derramavam gotas de esperança nas páginas do Evangelho de Mateus. Nenhuma palavra, naquele instante, podia ser ouvida. A criança, em profunda meditação, recorria ao silêncio. Surpreendentemente, o pequeno filho de Deus suportava as misérias que o assolavam sem murmurar uma única queixa. Quando, enfim, abriu os lábios, leu com a mesma voz cândida, que sempre recorria ao Pai-Nosso: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados...”. Antes de se levantar, a pequena criatura, de semblante renovado pela prece, bebeu a água iluminada por seus mentores espirituais.

    Ao sair do quarto, que dividia com seu irmão, ele procurou a porta da rua e foi para praça brincar. Com a bola presa entre o corpo e as mãos, caminhava até o campinho de futebol. No meio do percurso, a terna alma deparou-se com uma jovem tristonha e solitária, sentada no banco de concreto da paisagem urbana. Como se pudesse mensurar em seu próprio peito o sofrimento alheio, o nobre amigo cumpriu mais uma etapa de sua admirável jornada. Recordou-se da cena em que Jesus perguntara a Maria de Magdala: “Mulher, por que choras?”, e se aproximou com intuito pueril, ciente de que era, tão-somente, mais um entre tantos colaboradores da Estrela de Nazaré.

    O franzino e meigo camarada sentiu por aquela moça, na plenitude da vida física, um amor cujos homens adultos não poderiam entender. Ele se aproximou e através da mediunidade enxergou um longo estado de depressão. Apesar da beleza indígena, faltava brilho a jovem. Suas bochechas eram pálidas, o cabelo sem viço e os olhos – ah, os olhos! – pareciam sem vida. Com duas balas no bolso, o menino ofereceu uma à bela cabocla. Ela aceitou, agradeceu e perguntou-lhe qual o seu nome? Explicativo, ele respondeu: “Pedro, e foi a minha mãe quem escolheu”.

  - Muito bonito, elogiou a jovem.

   Agora, feliz pela oportunidade de falar àquele coração, que se mostrava receptivo, Pedrinho conversou feito gente grande:

      - Assim como você se sente, eu também me sinto. Dói muito a sensação de estar só, mesmo quando acompanhado por uma multidão, mas há nisso uma oportunidade santa para nos conhecermos melhor. Há tempos, deixei de me lamentar. Não posso viver contra a minha natureza, a fim de agradar os outros. Prefiro agradá-los por intermédio do amor. Muitas pessoas dizem que preciso conhecer o mundo, passear, freqüentar festas e lidar com gente da minha idade. E eis que eu sempre replico: apresentem-me os depressivos, os desesperados, os que curtem as dilacerantes misérias da alma e, assim, vocês não só me ajudarão a conhecer o mundo, como também a modificá-lo. Não quero fugas!

    A jovem recebeu o conforto da mensagem inesperada e se identificou, profundamente, com a filosofia que relatava a pureza e a sabedoria de uma criança. Menos tímida, ela retirou o espinho do medo, que lhe sufocava a auto-estima e resolveu falar:

  - Perdi o ânimo de viver. Não tenho motivação para nada. Nem da minha aparência cuido mais. Fico em casa, presa a uma vontade, sem-fim, de me isolar. Cansei da paisagem que não muda, das pessoas que dizem sempre a mesma coisa e da falta de acontecimentos novos.

   Pedrinho lamentou o clima sombrio que a envolvia, foi ameaçado por alguns pensamentos a recuar e abandoná-la ali, na amargura. Num gesto de doçura, o menino ignorou a má sensação e pegou a mão da jovem. Estava gelada e o pulso, agitado. Olhando-a, fixamente, ele pediu atenção para, em seguida, levá-la às lágrimas:

- O materialismo não lhe basta. Você pode buscar refúgio no consumo de roupas, jóias e na busca de grandes paixões, mas não encontrará. Neste exato segundo, ressoa dentro do seu íntimo o eco do mundo invisível.

   Surpresa, a linda cabocla questionou: - como sabe o que sinto?

    Pedrinho lhe saciou a dúvida: - Eu também vivo esta situação. Passado tanto tempo, aprendi que preciso ter paciência. A dor será superada. Não posso deixar o pânico invadir a minha mente. A série de ataques espirituais nos ensina a ter autocontrole e a redobrar o ímpeto nos caminhos da fé. O médium, em prova, é submetido ao estresse. Se ele não põe prazo para as dificuldades se afastarem e luta - sem desespero, com os recursos do amor, a vitória, certamente, virá. Quem aprende a se conhecer, cria forças para servir aos semelhantes no terreno da caridade. É simples assim, não se espante! Doamos aquilo que temos. E feliz aquele que descobre a paz dentro de si, porque terá, sempre, uma palavra de conforto para doar.

   - Tenho perdido noites de sono inteira por não conseguir me concentrar. Os meus pensamentos parecem saturados, não sei mais o que dizer a mim mesma, contou a jovem.

   Pedrinho retornou a fala: - É você, em espírito, quem grita; e o seu corpo, conseqüentemente, sofre movido por uma grande sensibilidade, que o faz captar até “o vento que passa”. Por favor, não se desespere. Enquanto, muitas perdem a saúde brigando por riquezas e poder, a sua delicada alma clama e pede a oportunidade de se dedicar ao amor. Creia em Deus! A hora está próxima e você há de encontrar a bênção que tanto pede.

A moça abraçou o menino como se ele fosse o seu próprio filho e acreditou que aquela linda mensagem abriria os seus caminhos espirituais.



Nenhum comentário:

Postar um comentário