sexta-feira, 7 de março de 2014

Misericórdia sem-fim

  Quando eu abro as escrituras religiosas, imediatamente, vou ao tempo, olho para o céu, busco o infinito e percebo que o Criador não pode ser limitado pelas páginas de um livro. Certa vez, disse Cartola, o genial poeta e compositor brasileiro, que quando sentia vontade de rezar e não havia nenhuma igreja por perto, ele se ajoelhava aos pés de uma árvore e, em preces, chegava ao Pai. A grafia divina, inconteste, está enraizada na Natureza, que é Deus em forma de Mãe. Creio numa Força Suprema tão maternal e amorosa que, mesmo não aceitando o diabo teológico, tenho certeza que se ele existisse realmente, o Cristo iria aos infernos buscá-lo com as mais doces palavras – “venha comigo, não há final dos tempos, o amor vive em ti, e o Reino dos Céus só estará completo se todos os seres estiverem reunidos. Refaça as tuas obras, porque Deus te espera na eternidade”.

   A cultura do ódio se disseminou, de maneira tão exacerbada, que até da Bíblia as pessoas retiram motivação para execrar alguém. Os cristãos, pondo termo a Misericórdia Soberana, esquecem-se do compromisso de amar e maldizem os personagens históricos, Judas Iscariotes e Lúcifer, como se fossem melhores do que eles. A vontade de encobrir os próprios erros aumenta a impiedade humana. A doutrina da punição destrói os inimigos eleitos com o extermínio, mas o fogo divino passa e transforma. No entanto, poucos querem saber disto. O serviço de educação e reforma é desgastante, logo, torna-se melhor escolher os demônios modernos, e a exemplo dos tradicionais, tentar eliminá-los. Por credos tão desumanos, os religiosos produzem guerras, preconceitos e não conseguem influenciar as políticas da ONU para construir um mundo de paz. 

  O Cristianismo conta 2014 aniversários desde a sua revelação, porém a biosfera e a antroposfesra têm bilhões de anos. Os homens das civilizações remotas - que retornam a Idade da Pedra - viviam em harmonia constante com a natureza e se sentiam filhos do sol e da lua. Dirão os teólogos que isso é o atraso do paganismo. Eu digo não! Tudo quanto existe no universo provém do sopro vital, como afirmam as religiões, ou da explosão originária, o Big Bang, conforme alegam os cientistas. Da simples estrela do mar ao astro mais fulgurante dentre todas as galáxias, há uma interligação natural. O homem é sensível a esse magnetismo.  Antes dos livros, o mamífero, sem-igual, já amava a Deus ao acessar o templo da sua consciência e na contemplação da vida em movimento. 

  Talvez, nada sintetize melhor o sentimento acima do que a frase de Carl Gustav Jung: “Eu não creio em Deus, eu sinto Deus”.

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